A
pele, além de ser o primeiro órgão de defesa de nosso corpo contra as
adversidades do meio externo, possui papeis importantes, cujas complexidades e
higidez contribuem para manutenção da homeostase do organismo. Tais
propriedades, no entanto, só são desempenhadas com excelência se o tecido
tegumentar estiver em condições normais e plenas de funcionamento e cuidado
(COSTA,
Para
que a nossa pele esteja em um estado adequado de funcionamento, dois processos
básicos agem em conjunto, a limpeza e a hidratação cutânea. A limpeza contribui
para remoção dos debris externos, secreções cutâneas naturais e
micro-organismos. A hidratação, por sua vez, tem o papel primordial de manter o
conteúdo de água na epiderme e manter a barreira epidérmica em perfeito estado.
Portanto, vale a pena ressaltar que uma barreira epidérmica intacta permite que
haja um equilíbrio cutâneo de água, o que, em ultima instancia, é essencial
para o bom funcionamento da maquina cutânea e para a manutenção de uma
aparência normal deste órgão.
Mecanismo
fisiológico de manutenção da integridade da barreira cutânea:
A
barreira epidérmica é composta de dois componentes de função: matriz proteica
celular, a barreira epidérmica é composta de dois componentes de função: matriz
proteica celular (composta por uma trama de ceratinócitos entrelaçado, disposta
em camadas, limitadas superficialmente pelos corneócitos) e matriz intercelular
( composta por dupla camada
lipídica)
O
equilíbrio entre os compartimentos celular proteico e intercelular lipídico estabelece
o estado que mantém o balanço hídrico normal, respeitando suas características
setoriais (camadas celulares epidérmicas superficiais repelem água, enquanto
que as profundas a retém), primordiais para o equilíbrio deste tecido. Nos
meios intra e extracelulares não existem apenas, estruturas proteicas e
lipídicas que são importantes para a hidratação cutânea. outras partículas
químicas, orgânicas ou não, embebidas nestes dois compartimentos são tão
importantes quanto e ajudam a formar estruturas fundamentais para a manutenção
da hidratação da pele
Desta forma, podemos
dividir os mecanismos dinâmicos envolvidos na hidratação cutâneo em fator de
hidratação natural (FHN) intercelulares e bombas iônicas. A agua presente na
epiderme não é suficiente para a hidratação epidérmica se não houver fatores
para sua retenção, im pedindo a evaporação para o meio. Nesse sentido, duas
estrtturas desempenham este papel, o FHN e os lipides intracelulares. Os
lipides são tão importantes para o funcionamento normal da epiderme que,
quando aplicados topicamente atravessam o estrato córneo, são capturados por
vesículas fagociticas na parede das células granulosas epidérmicas. Migram
para fusão ao sistema reticular-golgi sendo novamente exocitadas para o
espaço intercelular corneano afim de recompor a função hidratante dos lipides
intercelulares dessa células anucleadas
Bombas iônicas
O componente iônico é, depois dos
aminoácidos, a estrutura molecular mais importante do FHN, sendo, em sua
totalidade, responsável por 18,5% desta estrutura. Estes oligoelementos estão
em constante interação entre si, estabelecendo um equilíbrio eletrolítico
primaz. Tal estado iônico, bem como sua interface com as demais estruturas de
barreira cutânea contribuem para o estabelecimento de um perfil de hidratação
adequado.
Xeratose Cutânea
O funcionamento adequado desta barreira confere integridade, equilíbrio d’água, hidratação e descamação corneocítica organizada à pele. Na vigência de distúrbio de um desses componentes de barreira, há um aumento da perda de água transepidérmica (TEWL – sigla inglesa de Transepidermal Water Loss), resultando na xerose, com seus sinais e sintomas clássicos. Sabe-se que o conteúdo normal de água no estrato córneo é de 20% a 35% quando inferior a 10%, sinais e sintomas xerósicos visíveis é evidenciado. Tal estado xerósico altera o ritmo normal de maturação e descamação dos corneócitos, já que a hidratação da pele ativa as enzima quimiotrípicas córneas (responsáveis pela hidrólise dos corneodesmossomas), impedindo o desprendimento e a separação dos corneócitos superficiais um a um. Com isso, vê-se que os mesmos se destacam em blocos celulares, o que é perceptível, diferentemente do que se vê na separação unitária corneocítica em uma pele normalmente hidratada A xerose cutânea não é um mecanismo uníssono e estático. Existem várias condições intrínsecas e extrínsecas que podem contribuir para o estabelecimento da xerose cutânea (como, por exemplo, umidade ambiental excessiva, radiação solar, extremos de idade, estresse emocional, baixa umidade relativa do ar, testosterona, traumas físicos e inflamação cutânea).
Hidratanes
Os hidratantes são classificados de acordo com o mecanismo de ação de seus componentes. Desta forma, podem ser: oclusivos, umectantes, emolientes e reparadores proteicos. Na imensa maioria das vezes os produtos comerciais disponíveis utilizam componentes de cada uma destas classes nas suas formulações A composição de um produto hidratante é o segredo do seu sucesso. Sua eficiência, tanto no tocante a seu objetivo clássico, a hidratação corneocítica, quanto nos seus atributos secundários (por exemplo, prevenção e tratamento de dermatites irritativas em peles sensíveis a esta ou não, bem como no auxílio na abordagem antienvelhecimento), e, principalmente, seu perfil de segurança estão diretamente relacionados às matérias-primas nele utilizados.
Oclusivos
São produtos ricos em componentes oclusivos os quais retardam a evaporação e perda d’água epidérmica através da formação de um filme hidrofóbico na superfície da pele e no interstício entre os ceratinócitos superficiais. São compostos frequentemente gordurosos, mais efetivos quando aplicados com a pele levemente umedecida. Vale ressaltar que embora gordurosos, eles podem dar um perfil “sem óleo” (oil free) para o produto, desde que estes não sejam substâncias oclusivas de origem mineral ou vegetais. Umectantes São produtos compostos por substâncias que retém água na camada córnea, seja por atrai-la da derme (“mecanismo de dentro para fora”), seja, em ambientes com umidade atmosférica maior que 70%, por atrai-la do ambiente (“mecanismo de fora para dentro”). Estes compostos, no entanto, devem estar associados a compostos oclusivos, pois, caso contrário, ao invés de promoverem a hidratação, podem, sim, acelerar a TEWL em até 29%, desidratando a pele. Emolientes Também conhecidos como produtos de “Mecanismos Especiais”, os produtos ditos emolientes são os ricos em compostos capazes de “preencher as fendas” intercorneocíticas, retendo água nesta camada. Tal capacidade hidratante é alcançada graças ao aumento da coesão entre essas células, aumentando a capacidade “oclusiva” natural da camada córnea. São compostos oleosos e lipídicos não gordurosos que espalham facilmente na pele, melhorando a aceitação cosmética do produto, conferindo uma melhor textura, maciez, viço e flexibilidade à pele.
Conclusões
A hidratação cutânea é um campo de excelência prescritiva para os dermatologistas. Conhecimentos científicos sobre os mecanismos envolvidos na manutenção fisiológica da mesma, bem como daquelas que a desregulam são fundamentais para o encontro de novos princípios ativos a serem usados nos produtos hidratantes comerciais. Por ser uma condição relativamente constante, seja de origem primária, seja de origem secundária, a xerose é o grande aliado dos cientistas nesta busca frenética por conhecimento. Além disso, a xerose instiga as empresas cosméticas a laçarem bons e novos produtos hidratantes comerciais constantemente, grandes aliados de nossa prática clínica. O conhecimento constante destas informações criam diretrizes para nós, médicos, sabermos escolher o melhor produto, para a condição cutânea específica de nossos pacientes, satisfazendo-os e auxiliando-nos naquilo que melhor fazemos: sanar condições inquietantes para a saúde da população.
MILAN,Ana Lúcia Koff et al. Estudo da hidratação da pele po emulsões cosméticas para xerose e sua estabilidade por reologia, Rev. Bras. cienc farm, São Paulo, v. 43, n 4, Dec, 2007
COSTA, Adilson. Hidratação cutânea, Revista Brasileira de Medicina.
DRAELOS, ZD, Cosmeceuticos, Elsevier: Rio de Janeiro 2005.
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